quinta-feira, 3 de março de 2011

O Tamanho do Brasil - Riqueza de Quem?

Em março de 2008 dois grandes professores de Geografia que muito admiro pela seriedade e competência na produção de um pensamento genuinamente brasileiro (Márcio Cataia e Samira Peduti Kahil)  organizaram um evento na UNESP/Rio Claro intitulado "O Tamanho do Brasil - Território de Quem?".  Me vem à memória este evento ao ler que o Brasil já é a 7ª Economia do Mundo, segundo cálculo dos economistas liderados pelo ministro Guido Mantega.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/883828-brasil-ja-e-a-7-maior-economia-do-mundo-diz-mantega.shtml

Continuando aquelas reflexões e parafraseando os eminentes professores, podemos nos perguntar: riqueza de quem?




O Brasil ter se tornado, economicamente, mais pujante do que economias historicamente fortes como aquelas do Reino Unido e França suscita diversas reflexões. Uma delas, quais os destinos desta riqueza, já que suas origens, podemos afirmar, muito mais do que da abundância dos recursos minerais e das extensões de solo fértil, advêm da exploração do trabalho humano - constatação esta que já possui quase dois séculos (ver "O Capital" de Karl Marx). Entretanto, nas rodas das elites e das classes médias ainda é tabu a discussão acerca da distribuição desta riqueza - tema quase sempre confundido com o assistencialismo e paternalismo do Estado brasileiro, como podemos constatar pela pobreza do debate em torno dos reajustes do salário mínimo, ocorrido recentemente.

A superexploração do trabalho humano, e a histórica concentração de riquezas nas mãos de uns poucos sempre foram marcas presentes em nossa formação socioespacial. A distribuição dessas riquezas, favorecendo milhões de pessoas, nunca foi tema de debate sério promovido pela nação - o que ainda deve ser feito.

Espera-se que com as marcas do novo tempo histórico (dentre elas, a difusão acelerada e mais democrática da informação), estas estatísticas passem a ser mais discutidas - afinal, de que vale ter uma economia maior do que algumas das maiores economias européias, se grande parte de nossa população ainda vive em condições bastante difíceis, em relação ao acesso a bens materiais de primeira necessidade e aos serviços básicos?

Cabe aos intelectuais, aos professores e às parcelas mais progressivas da grande mídia (se é que elas existem) promover este debate pois, em termos civilizatórios, nossa nação ainda é bastante pequena - e aqui, ainda, não cabe nenhuma celebração. Que me perdoem os economistas....

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