segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Enchentes - Culpa da natureza?

Chove forte em São Paulo. Sinal de atenção e drama iminente para milhões de pessoas, submetidas ao descaso não de uma natureza feroz e implacável, mas do modo como, barbaramente, são praticados a política e o poder.

Há um esforço enorme, de parte do governo paulista (nos níveis municipal e estadual), e de uma parte dos empresários de vários lugares, para a criação da cidade que temos. Uma metrópole toda fragmentada, ultra-densificada, produto da especulação imobiliária, impermeabilizada até o mínimo recorte de seu território.

A prefeitura paulistana é bastante atuante, no que diz respeito aos estímulos à densificação de uso e ocupação do território municipal, e ausente no que diz respeito à manutenção dos sistemas de drenagem, e  monitoramento dos usos do território da cidade. O descaso com o monitoramento dos cursos d´água, acelerando o assoreamento de seus leitos, e diminuindo a capacidade de transporte de água, também tem agravado o problema das enchentes.

O planejamento e zoneamento do território da cidade, com as designações das atividades e construções que podem ser praticadas em cada parte da mesma, também são atribuições dos governos. E a falta de planejamento, ou um planejamento equivocado, produto de suas omissões e irresponsabilidades!

Nas ruas mais centrais, parece haver grande conivência do poder público local com uma gama enorme de comerciantes que não cuidam dos restos de seu negócio, deixados, indiscriminadamente, nas calçadas e sarjetas. Depois que baixam as portas, e colocam o lixo nas ruas, ocorre uma disputa entre moradores de rua e catadores pelos materiáveis recicláveis. O que não pode ser reaproveitado para vender, é deixado espalhado no chão. Chegada a primeira chuva, todo esse material é carregado para as galerias de águas pluviais já danificadas.







A localização das principais artérias do sistema rodoviário paulistano também contribui para a ocorrência frequente de inundações. Por conta de um planejamento equivocado do passado, as principais ruas e avenidas da cidade margeiam rios e córregos, impermeabilizando e modificando o curso dos canais, ocupando áreas antes inundáveis das várzeas dos rios e seus afluentes.
O processo de verticalização no entorno de dois dos maiores sistemas rodoviários e fluviais da cidade (Pinheiros e Tietê) é brutal. Constroem-se prédios a uma velocidade alucinante, o que irá, em futuro bastante próximo, agravar ainda mais o problema.

As inundações, interrompendo o tràfego de veículos e pessoas, martirizam milhões de indivíduos que se deslocam das periferias paulistanas, e dos 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo-RMSP para as regiões centrais, onde concentram-se, ainda, a maior parte dos serviços e empregos. E este martírio tem se tornado cada vez mais frequente.

É preciso maior conhecimento pela sociedade das reais causas do problema, e compromisso do poder público não, somente, com os especuladores imobiliários, mas com a totalidade das pessoas nos espaços da cidade. Está mais do que na hora dos políticos e outros agentes sociais pararem de culpar a natureza pela sua própria omissão, e passarem a cuidar mais e melhor do território para todos.

Um comentário:

  1. é isso aí mestre James! Concordo plenamente. Já está na hora de nós, moradores de centros urbanos, de maior ou menor complexidade, expressarem sua indignação perante tal situação, exigindo assim do poder público medidas a serem tomadas para resolver essa situação que a cada dia que passa fica mais comum de ver nos centros urbanos.

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