Chove forte em São Paulo. Sinal de atenção e drama iminente para milhões de pessoas, submetidas ao descaso não de uma natureza feroz e implacável, mas do modo como, barbaramente, são praticados a política e o poder.
Há um esforço enorme, de parte do governo paulista (nos níveis municipal e estadual), e de uma parte dos empresários de vários lugares, para a criação da cidade que temos. Uma metrópole toda fragmentada, ultra-densificada, produto da especulação imobiliária, impermeabilizada até o mínimo recorte de seu território.
A prefeitura paulistana é bastante atuante, no que diz respeito aos estímulos à densificação de uso e ocupação do território municipal, e ausente no que diz respeito à manutenção dos sistemas de drenagem, e monitoramento dos usos do território da cidade. O descaso com o monitoramento dos cursos d´água, acelerando o assoreamento de seus leitos, e diminuindo a capacidade de transporte de água, também tem agravado o problema das enchentes.
O planejamento e zoneamento do território da cidade, com as designações das atividades e construções que podem ser praticadas em cada parte da mesma, também são atribuições dos governos. E a falta de planejamento, ou um planejamento equivocado, produto de suas omissões e irresponsabilidades!
O planejamento e zoneamento do território da cidade, com as designações das atividades e construções que podem ser praticadas em cada parte da mesma, também são atribuições dos governos. E a falta de planejamento, ou um planejamento equivocado, produto de suas omissões e irresponsabilidades!
Nas ruas mais centrais, parece haver grande conivência do poder público local com uma gama enorme de comerciantes que não cuidam dos restos de seu negócio, deixados, indiscriminadamente, nas calçadas e sarjetas. Depois que baixam as portas, e colocam o lixo nas ruas, ocorre uma disputa entre moradores de rua e catadores pelos materiáveis recicláveis. O que não pode ser reaproveitado para vender, é deixado espalhado no chão. Chegada a primeira chuva, todo esse material é carregado para as galerias de águas pluviais já danificadas.
A localização das principais artérias do sistema rodoviário paulistano também contribui para a ocorrência frequente de inundações. Por conta de um planejamento equivocado do passado, as principais ruas e avenidas da cidade margeiam rios e córregos, impermeabilizando e modificando o curso dos canais, ocupando áreas antes inundáveis das várzeas dos rios e seus afluentes.
(vejam fotos das inundações aqui: http://noticias.uol.com.br/album/110216chuva_album.jhtm?abrefoto=100 )
O processo de verticalização no entorno de dois dos maiores sistemas rodoviários e fluviais da cidade (Pinheiros e Tietê) é brutal. Constroem-se prédios a uma velocidade alucinante, o que irá, em futuro bastante próximo, agravar ainda mais o problema.
As inundações, interrompendo o tràfego de veículos e pessoas, martirizam milhões de indivíduos que se deslocam das periferias paulistanas, e dos 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo-RMSP para as regiões centrais, onde concentram-se, ainda, a maior parte dos serviços e empregos. E este martírio tem se tornado cada vez mais frequente.
É preciso maior conhecimento pela sociedade das reais causas do problema, e compromisso do poder público não, somente, com os especuladores imobiliários, mas com a totalidade das pessoas nos espaços da cidade. Está mais do que na hora dos políticos e outros agentes sociais pararem de culpar a natureza pela sua própria omissão, e passarem a cuidar mais e melhor do território para todos.